sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Dia 1 - Meu Povo.

Somos um povo. O povo do Abismo.
Esse povo foi esquecido pelo tempo e espaço. Não há natalidade, não há mortalidade.
Não temos dias, meses, anos, semanas, festas ou feriados.
Não temos relógios, torres, casas, igrejas, parques ou praças.

Somos esse povo, estranho.
Não conhecemos outros povos.

As penumbras, a poeira escura e o metal profundo depositou em nós o ferro, a água, o bronze e o mercúrio.

Nossos homens têm olhos fundos e sombrios que engolem suas expressões, corpos esqueléticos que rejeitam os produtos e ingestões e grandes cabeças com cabelos pretos, sujos, duros e espetados, que protegem suas idéias. Seus rostos têm linhas sólidas e inflexíveis, parecem estátuas ambulantes.

Nossas mulheres também têm olhos fundos e sombrios, e também têm corpos esqueléticos. Seus cabelos são longos, pretos e oleosos. São fêmeas exuberantes, possuem belas curvas, seios e pernas fartas. Mas são todas muito brancas, frias e frígidas. São belos desperdícios de vida e carne flutuantes, como fantasmas desenganados.

Nossas crianças não existem desde muito tempo, e durante muito tempo elas não serão geradas, pois não há necessidade para mais cidadãos no Abismo.

Somos grandes caçadores.
Caçam nossa comida que é, basicamente, outros homens e mulheres, mas estes não são como nós. São diferentes. Não sei explicar como são, só sei que não são como nós.
são comida.



Os homens não procuram mulheres, tampouco mulheres vão atrás dos homens.
Cada um cuida de sua vida, no meu povo.


Não temos TVs, não temos fogões elétricos, não temos animais para criar.
Não temos revistas, não temos brinquedos, não temos dinheiro, não temos utensílhos.
Não desejamos, não sonhamos, não sentimos.

Já tivemos isso, mas jogamos fora. Era tudo muito inútil.
O que sobrou... bem, foi o meu povo.

2 comentários:

Gab disse...

bizarro e poético
gosto assim :)

lilynotfair disse...

falo tudo. =D